Para ler NO Deserto

“Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou naquele dia; porque tu ouviste, naquele dia, que estavam ali os anaquins, bem como cidades grandes e fortificadas. Porventura o Senhor será comigo para os expulsar, como ele disse.”(Josué 14:12)

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sábado, 14 de agosto de 2010

Pare e pense


O Dia do Perdão!
Lázaro Curvelo Chaves

Uma das coisas mais lindas que a teologia judaica traz para a humanidade é a noção da possibilidade de um recomeço de tudo a partir do perdão, o Yom Kippur, "Dia do Perdão".
E Jesus Cristo, judeu por nascimento, levou ao limite mais sério a prática do perdão, não apenas em seu discurso, mas em seu exemplo existencial... "Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam..." (Mateus 5: 44). A prática, a demonstração nítida de seu comprometimento com este raciocínio quando no
monte chamado "Caveira", já às portas de sua morte física pela cruz, rogou a Deus, intercedendo pelos que o supliciavam: "Perdoa- lhes, Pai. Eles não sabem o que estão fazendo." Lc 23, 34.
Um exemplo bastante curioso da prática do perdão, encontra-se num conto de Jorge Luís Borges sobre Caim e Abel. Diz-nos em essência, o grande escritor argentino que os dois irmãos
caminhavam pelo deserto, um em direção ao outro, quando Caim reconheceu seu irmão pela marca da pedrada que o matou. Convida-o a uma refeição, evidentemente que kosher (a alimentação lícita), com ele. Após algum tempo, Caim ergue a voz e pergunta a
Abel, sentindo-se culpado ainda: "Você já me perdoou?" Ao que Abel responde: "Perdoá-lo? Por quê? Foi você quem me matou ou fui eu a matá-lo? Já se passaram tantos milênios que já nem me lembro mais..." Esta é a essência do perdão: esquecer completamente o dano feito. Virar a página. Como é difícil perdoar quando não se tem amor no coração; como é simples e engrandecedor o perdão oriundo de um coração impregnado pela alegria do amor.
Fica aqui um convite a reflexão e ao perdão: Perdoe o empregado relapso que por algum motivo negligenciou de seus deveres. Perdoe o patrão que ergueu sua voz num momento de passageira cólera. Perdoe aquela moça o jovem apaixonado que não é correspondido.
Perdoe o jovem aquela menina linda que não tem culpa alguma em ser incapaz de corresponder-lhe. Perdoe o aluno o professor que, num momento tenso, ralhou com ele. Perdoe o professor ou a professora aquele aluno ou aquela aluna que num momento ou noutro foi um tanto ou quanto inconveniente a ponto de despertar essa coisa feia que é a repressão. Perdoe a vizinha inconveniente que vive a intrometer-se em sua vida a pretexto de "ajudá-la".  Perdoe o marido a esposa que não lhe correspondeu às expectativas numa ou noutra ocasião. Perdoe a esposa o marido que, numa ou noutra ocasião também foi incapaz de corresponder- lhe às expectativas. Perdoe o primogênito seus irmãos mais jovens por tudo o que considerou incorreto que os pirralhos hajam feito. Perdoem os mais moços por qualquer inconveniência banal do primogênito. Perdoem os pais os filhos quando se equivocam - afinal, errar é humano. Perdoem os filhos seus pais que, por vezes, exageram no excesso de zelo. Perdoem os cristãos aqueles que vêem o mundo de maneira um tantinho diferente, o perdão - particularmente a quem pensa diferente de nós - é evangélico!
Perdoem os não-cristãos se aqueles que informam seguir os mandamentos do Cristo cometeram atos não consentâneos com a fé que professam - não devemos nos tornar juizes do nosso próximo. Perdoem-me os magistrados por estas linhas fortes, mas confesso considerar dificílima a imparcialidade ou mesmo a neutralidade! Perdoemos os políticos por algum comportamento menos honroso, lembrando sempre o adágio, também evangélico: "Vá e não peques mais". Jo. 8, 11. Perdoem o povo que não tolera manipulação de suas vontades ou de suas posses à sua revelia.
Deixemos todo o julgamento a Deus. Quem somos nós, afinal, para julgar nosso semelhante? No meio do torvelinho desta vida, com tanta poeira lançada a nossos olhos, como não ter algum cisco que, literalmente, impede-nos a todos de ver apropriadamente e ousar tirar ciscos dos olhos dos outros? Não julgar nosso semelhante, abrirmo-nos ao diferente e tolerarmos; esta parece ser a essência dos mais elevados ensinamentos das mais diversas tradições místicas. Pensar o perdão com restrições é pensar outra coisa, que merece quiçá outra denominação. O perdão deve ser integral, irrestrito.
Que bom seria podermos viver alegre e plenamente sem qualquer dor ou eivor de tensão a nos incomodar - e algo poderia ser mais tenso que o ódio que, evidentemente, nos vincula e prende justamente àquele que cometeu falha humana para conosco, talvez até num laço ainda mais rígido que aquele do amor? E como viver sem ódio no coração, sem qualquer traço de ódio, enfim? Que o perdão pleno ganhe este espaço e teremos as respostas!
Não sendo judeus, por que deveríamos respeitar um costume judaico? Por que é lindo, faz sentido, não importa onde haja nascido. O que traz leveza e nos engrandece só pode ser benéfico!
Se os cristãos não têm o costume de eleger uma data especial para ser o "Dia do Perdão", deve-se ao fato de, idealmente, sendo cristãos, todos sermos capazes de perdoar imediatamente (perdoar e esquecer, pois perdoar é esquecer!)
Verdade? Caso contrário, vale a pena pensar, em reuniões teológicas na implementação de um novo mito multitudinário, em eleger efetivamente um "Dia do Perdão" e batalhar para viver, após a leveza da libertação das cadeias do ódio, com a alma limpa, alva, pura.
Estabelece-se uma data marcante - em nosso caso, por proximidades mil, sugiro o dia de São Francisco, o 4 de outubro - fica-se 24 horas por conta de refletir acerca de todas as coisas desagradáveis que andaram acontecendo conosco ou que fizemos que outros sofressem e, a seguir, página em branco, sem jamais sequer tocar no assunto que conduziu ao erro e este ao perdão, começar de novo sem qualquer resquício de ressentimento  ou mágoa.
Como somos fracos os humanos, não? Tendo aqui a solicitar encarecidamente a quantos perdôo, um esforço consciente para que não me veja compelido a, dentro de um ano após o "Kippur", perdoar ou pedir perdão pelas mesmas coisas novamente.
PENSE NISTO






Lázaro Curvelo Chaves é Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela UFF - Mestrando em ciência política pela UFF. Professor Universitário, autor de diversos livros. Colaborador do blog CALEBE


Um comentário:

  1. Linda mensagem! Reflito ainda sobre o que Jesus disse a Pedro quando questionado sobre quantas vezes devemos perdoar: "Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou: —Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes? —Não! —respondeu Jesus. —Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes." (Mateus 18:21 e 22). Assim que não há limite nem condicionante para o perdão. Um pastor presbiteriano me falou certa vez que o perdão é um ato revolucionário, no que concordo plenamente. E digo mais: reter o perdão causa doenças, raízes de amargura e até morte.

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